Como um projeto de transformação digital redesenhou o futuro da educação técnica em Angola.
O ensino técnico-profissional em Angola atravessou uma fase de consolidação e modernização. No centro desta transformação está o SIETP – Sistema de Informação para o Ensino Técnico-Profissional, uma plataforma digital concebida para dar resposta às necessidades concretas do setor. Desenvolvido no contexto do programa RETFOP – Revitalização do Ensino Técnico e da Formação Profissional de Angola, com a coordenação da equipa da LBC, ambicionou-se dotar o sistema educativo com uma ferramenta robusta, intuitiva e funcional, orientada para a recolha, a gestão e a análise fiável de dados. Este projeto foi financiado pela União Europeia, através do 11.º Fundo Europeu de Desenvolvimento, e cofinanciado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., reforçando o compromisso internacional com o fortalecimento da educação em Angola.
Enquadrar o desafio: quando os dados se tornam decisivos
Durante décadas a informação sobre o ensino técnico-profissional angolano foi fragmentada, com recolhas pontuais, formatos irregulares e pouca capacidade de análise em tempo útil. Não existia uma ferramenta centralizada para gerir dados sobre escolas, alunos, docentes e cursos. Esta ausência comprometia decisões estratégicas e o próprio desenho de políticas públicas para o setor.
Era necessário criar um sistema que não fosse apenas um repositório de dados, mas antes um instrumento dinâmico para monitorizar, planear e melhorar a qualidade da educação técnica – um sistema que garantisse fiabilidade estatística, acessibilidade à informação e integração com o ecossistema educativo existente, nomeadamente com o SIGE – Sistema de Informação e Gestão da Educação de Angola.
Escutar para construir: o processo colaborativo de desenvolvimento
A LBC assumiu desde o primeiro momento uma abordagem centrada no utilizador. A escuta ativa dos principais intervenientes – Ministério da Educação, GEPE – Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística, INFQE – Instituto Nacional de Formação de Quadros da Educação e as próprias escolas – foi a pedra basilar de todo o processo. Cada requisito funcional foi desenhado após sessões de levantamento de necessidades, análises de contexto e sessões de validação conjunta.
A metodologia de trabalho seguiu princípios ágeis, segundo a metodologia Agile (gestão de projetos e desenvolvimento de software que privilegia a flexibilidade, a colaboração e o foco no cliente), garantindo entregas iterativas e adaptabilidade constante às novas exigências. A arquitetura do SIETP foi segmentada por macroprocessos – como gerir escolas, cursos, docentes, alunos, fechar anos letivos e gerar indicadores –, assegurando clareza funcional e escalabilidade tecnológica.
A interface foi pensada para ser acessível, intuitiva e adaptada ao quotidiano dos utilizadores finais. Cada ecrã e fluxo foi prototipado com base em boas práticas de UI – User Interface (ou interface do utilizador) e UX – User Experience (ou experiência do utilizador), promovendo a clareza, a especificidade e a usabilidade ao longo de todas as interações.
Resultados que mudam o cenário educativo
Com a entrada em funcionamento do SIETP, Angola passou a dispor de uma plataforma que permite:
- Registar e gerir, em tempo real, dados sobre escolas, alunos, docentes e cursos;
- Produzir estatísticas fiáveis, segmentadas por região, tipologia, género, faixa etária e outros indicadores;
- Monitorizar a evolução do sistema de ensino técnico com base em dados concretos;
- Reforçar a transparência e a eficiência na tomada de decisões políticas.
Mais do que uma solução tecnológica, o SIETP representa um ponto de viragem na forma como o sistema educativo angolano se pensa, se organiza e se projeta. A capacidade de gerar indicadores sólidos – de inclusão, de participação, de conclusão e de recursos humanos – reforça o papel do Ministério da Educação enquanto agente estratégico de desenvolvimento do país.