Num país marcado pela diversidade geográfica, crescimento demográfico acelerado e desafios estruturais, o sistema de avaliação educativa enfrenta uma necessidade premente: evoluir. O Governo de Angola, através do Ministério da Educação e com o apoio do consórcio LBC, IAVE – Instituto de Avaliação Educativa e UCP – Universidade Católica Portuguesa, decidiu agir. O objetivo era ambicioso, mas claro: desenvolver um novo modelo de exames nacionais para o ensino básico, sustentado por um Estudo de Viabilidade e um Manual de Operações, com foco inicial na 6.ª classe, nas disciplinas de Português e Matemática.
Desafio: fragmentação e desigualdade no acesso à avaliação
Até 2019 Angola contava com um modelo descentralizado de provas. Cada província organizava os seus exames, baseando-se em referenciais locais e práticas díspares. Esta realidade gerava inconsistências nos critérios de avaliação, falta de comparabilidade entre resultados e uma dificuldade crónica em tirar partido dos dados para informar políticas educativas.
Além disso, os desafios logísticos – desde a impressão e distribuição de provas à classificação e tratamento de resultados – acentuavam-se com a extensão territorial do país, a disparidade de recursos entre províncias e a ausência de ferramentas digitais eficazes. A necessidade de padronizar, modernizar e garantir justiça e qualidade na avaliação era, por isso, inevitável.
Abordagem: ouvir, estudar, redesenhar
A metodologia adotada assentou numa escuta ativa das partes interessadas, análise crítica do modelo vigente (as-is, ou situação atual dos processos) e construção colaborativa de um novo sistema (to-be, ou situação futura dos processos). Esta abordagem traduziu-se em cinco fases: diagnóstico, estudo de viabilidade, manual operacional, plano de implementação e comunicação, e gestão da mudança.
Com base em cenários realistas, foi desenhado um processo centralizado, mas flexível, alicerçado em 17 condições essenciais de implementação. Propôs-se uma transição faseada, que iniciou com uma fase piloto em duas províncias, alargando progressivamente o alcance do novo modelo. A introdução de equipas interdisciplinares, plataformas digitais de supervisão e classificação, e um sistema robusto de recolha e análise de dados assegurou não só maior fiabilidade e equidade, como uma base sólida para decisões informadas no futuro.
Resultados e aprendizagens: um modelo com impacto e visão
Os frutos desta transformação começaram a ganhar forma. A fase piloto permitiu testar, refinar e ajustar processos. Mais do que uma alteração logística, tratou-se de uma mudança de paradigma: a avaliação externa passou a ser uma ferramenta estratégica para melhorar aprendizagens, identificar fragilidades e orientar investimentos.
Com a digitalização progressiva das operações, formação das equipas envolvidas, e uma aposta clara na qualidade técnica dos instrumentos de avaliação, o novo sistema posicionou Angola numa rota de convergência com as melhores práticas internacionais. O impacto vai além dos exames: promove-se uma cultura de responsabilização, rigor e transparência – pilares de qualquer sistema educativo robusto.
No coração desta mudança está a convicção de que avaliar bem é, acima de tudo, um ato de justiça educativa. E quando se avalia com rigor e com propósito, abre-se caminho para que cada aluno — independentemente do lugar onde nasceu — possa crescer com oportunidades mais justas, mais claras e mais dignas.