Competências de liderança, gestão e inovação
O setor ferroviário português definiu um programa inovador cuja tese fundamental sustenta que o processo de modernização do setor com vista ao aumento da sua produtividade e competitividade só terá sucesso se for devidamente alicerçado no desenvolvimento sistematizado e programado de competências de liderança, gestão e inovação.
Esta tese é suportada pelos desafios socioeconómicos que resultam do advento da Sociedade da Informação e da Mobilidade, e do diagnóstico da situação atual no setor vis-à-vis os ambiciosos objetivos nacionais e da União Europeia. Esta tese é reforçada pelos exemplos das melhores práticas mundiais e de outros setores económicos que passaram recentemente por processos de liberalização e de transformação profunda, nomeadamente, os setores das telecomunicações, da banca, da energia e da aviação.
O novo contexto competitivo do séc. XXI deve impelir o setor ferroviário a procurar novas fórmulas e, como refere o Livro Branco sobre a Política Europeia de Transportes, “efetuarem uma verdadeira revolução cultural”. Para ganhar os exigentes desafios do futuro, o setor ferroviário tem de saber atrair, desenvolver, motivar e reter os melhores talentos e desenvolver sistemas de desenvolvimento de competências, com enfoque nas competências relacionadas com a liderança, gestão e inovação tecnológica.
Hoje, mais do que nunca, são precisas lideranças inovadoras e orientadas para resultados economicamente sustentáveis, com elevada capacidade de atrair, entusiasmar e gerir talentos em rede e de mobilizar vontades coletivas a todos os níveis.
O grande desafio das competências necessárias
O grande desafio consiste na definição da linha de equilíbrio entre o grau de investimento na modernização do setor e o correspondente grau de investimento em novas competências.
“O forte investimento que vai ser realizado no setor ferroviário, com destaque para a Alta Velocidade, vai requerer novas competências e protagonistas. É necessário preparar os quadros das empresas para responder aos novos desafios, reter o domínio e o conhecimento nas disciplinas técnicas, maximizando os ganhos futuros para o país. Este programa de desenvolvimento de competências, com a participação de todos os agentes do setor, vai ser um instrumento fundamental para ir ao encontro destes objetivos”, diz Fernando Moreira da Silva, diretor-geral de organização da REFER.
O setor mobiliza-se
Neste contexto, respondendo à iniciativa e à proposta da LBC, representantes das principais entidades do setor ferroviário português, em articulação com o Gabinete da Secretaria de Estado dos Transportes e da Secretaria Geral do Ministério das Obras Públicas Transportes e Comunicações:
- Realizaram um exercício estratégico de análise e definição das competências-chave para atingir o futuro desejado; e
- Definiram um Programa Integrado de Desenvolvimento de Competências.
Este projeto foi gerido por Fernando Moreira da Silva e envolveu representantes das seguintes entidades: CP, EMEF, Fernave, Ferbritas, Fertagus, Invesfer, Rave, REFER , REFER Telecom, Secretaria-Geral do MOPTC e Secretaria de Estado dos Transportes.
As competências críticas para o setor ferroviário
Tendo em consideração o novo contexto competitivo, os desafios do setor ferroviário, o diagnóstico da situação atual e o benchmark internacional, foram definidas 3 dimensões de desenvolvimento organizacional (liderança, gestão e inovação tecnológica) e 8 grupos de competências. Dentro de cada grupo de competências foram definidas competências-chave, num total de 20. Entre estas, foram definidas as 6 principais competências para o setor ferroviário vencer os desafios futuros:
- Identificação e desenvolvimento de talento;
- Planeamento e gestão da mudança;
- Gestão pelo valor;
- Gestão contratual;
- Orientação para o mercado/cliente;
- Gestão da inovação tecnológica.
Estas 6 competências são as que mais contribuem para os objetivos estratégicos do setor e para ultrapassar as limitações ainda existentes.
Programa de desenvolvimento de competências no setor
Tendo em consideração as competências críticas necessárias, foi definido um Programa Integrado de Desenvolvimento de Competências por forma a melhorar a capacidade de resposta do setor aos desafios da modernização, da produtividade e da competitividade. Os objetivos diretos do programa são:
- Criar uma visão global e mobilizadora do processo de modernização;
- Aumentar a aquisição e disseminação de conhecimento em áreas relevantes;
- Estimular o desenvolvimento da inovação e da investigação aplicada; e
- Aumentar a qualificação dos Recursos Humanos.
O programa está estruturado em 3 grandes vertentes de atuação e 8 áreas de intervenção.
A vertente estratégica tem um impacto orientador e contempla iniciativas sobre políticas e a forma de organização do setor, incluindo as seguintes áreas de intervenção: Governação Setorial de RH e Políticas Setoriais.
A vertente operacional tem impacto direto no desenvolvimento de competências do setor e atua diretamente sobre a gestão e desenvolvimento de recursos humanos, incluindo as seguintes áreas de intervenção: Educação e Desenvolvimento, Práticas e Processos de RH, Inovação e Conhecimento, Marketing/Comunicação.
A vertente de suporte tem impacto transversal, constituindo ações de suporte à implementação do programa de desenvolvimento, incluindo as seguintes áreas de intervenção: Programa de Gestão da Mudança e Portal do Conhecimento.
No âmbito de cada área de intervenção foram definidas iniciativas detalhadas. Os fatores críticos de sucesso deste programa são:
- Divulgação do programa ao setor;
- Adesão, mobilização e compromisso dos agentes e das entidades chave do setor com o programa;
- Gestão ágil e afetação de recursos adequados ao programa; e
- Foco nas atividades-chave do programa.
O desafio da ação
Existe um modelo estruturado de atuação que está aberto à participação dos agentes do setor em várias vertentes. O Portal do Conhecimento do setor já foi lançado e a sua gestão está a cargo da Fernave. O Conselho de Desenvolvimento também já foi constituído.
Falta agora os agentes do setor mostrarem que são capazes de assumirem a iniciativa e de o levarem à prática. Este é o momento para os líderes se assumirem. Líderes que se foquem na ação e na concretização de resultados em vez de se dispersar em debates detalhados. A afinação faz-se com a prática. Líderes que sejam agregadores de vontades coletivas.