No cenário económico atual, marcado por crescentes desafios ambientais, a transição para negócios mais sustentáveis assentes nos pilares ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governação) é inevitável para todas as empresas, independentemente da sua dimensão.
As “novas” regras europeias de reporte corporativo de sustentabilidade, associadas à diretiva CSRD – Corporate Sustainability Reporting Directive (Diretiva UE 2022/2464), obrigam as empresas de grande dimensão cotadas em bolsa a apresentarem, em 2025 com relação ao ano fiscal de 2024, os seus desempenhos em matéria de sustentabilidade, devendo fazê-lo ao abrigo das normas ESRS (European Sustainability Reporting Standards). Quanto às pequenas e médias empresas (PME), apenas as cotadas precisam de o fazer, e só em 2027 em relação ao ano fiscal 2026, ficando as restantes isentas de obrigatoriedade.
No entanto, a pressão de um ecossistema global interligado torna fundamental que todas – sem exceção – se preparem para responder aos impactos que a transição ESG pode trazer aos seus negócios. Neste artigo exploramos as razões pelas quais as PME devem preocupar-se com os fatores ESG e usá-los para impulsionar a sua competitividade.
Desafios e oportunidades para as PME
De entre as 10.000 PME portuguesas com melhor performance de gestão e financeira, 40% não veem benefícios claros em adotar práticas de ESG, de acordo com um inquérito realizado pela Universidade Católica com a colaboração do IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação. No entanto, as evidências sugerem que ignorar esta tendência pode ter consequências adversas.
Cadeias de valor
O reporte de ESG é feito segundo três âmbitos: as emissões de âmbito 1 são as diretas, que são detidas ou controladas por uma empresa; as emissões de âmbito 2 e 3 são indiretas, ou seja, uma consequência das atividades de uma empresa, que ocorrem a partir de fontes que não são detidas ou controladas pela mesma; as de âmbito 2 são ligadas ao consumo de energia e à sua origem, as de âmbito 3 provêm da cadeia de valor.
Âmbitos de reporte ESG
As empresas legalmente obrigadas a reportar a sua performance ESG são, no âmbito 3, forçadas a exigir um reporte idêntico às entidades suas parceiras ou fornecedoras (que podem ou não ser obrigadas por lei a fazê-lo). Nesse sentido, e perante um tecido empresarial complexo e intricado, uma organização com fraca ou nula performance ESG pode contaminar com facilidade a pontuação de outra, e por isso tornar-se menos atrativa.
Para se manterem competitivas, proteger e defender a sua reputação e garantir a vitalidade da relação com os seus clientes, as empresas devem apresentar esforços em cumprir com metas ESG e práticas mais sustentáveis, porque o contrário poderá significar uma passiva exclusão no mercado.
Pressões no sistema financeiro
O sistema financeiro – composto pela banca, pelos investidores e pelas seguradoras – também é obrigado a fazer este reporte ESG. Aqui reside um problema direto para as PME: o acesso a financiamento está condicionado pelo risco que o negócio representa para a integridade da cadeia de valor (âmbito 3) da entidade financeira. Por esse motivo, o sistema financeiro opta por financiar aquelas com uma estratégia ESG já delineada e resultados mensuráveis, garantindo assim a sua proteção perante as obrigações legais.
Atração de talento
Apesar do impacto significativo que os clientes e o sistema financeiro têm sobre as empresas para definirem e cumprirem com objetivos ESG, há uma outra força de pressão que merece reconhecimento: os colaboradores. Cada vez mais, o trabalho orientado por um propósito é uma aspiração para uns e uma exigência para outros. Desta forma, se uma empresa quer atrair e reter talento, deverá demonstrar-se empenhada nos fatores ESG. As novas gerações assim o exigem: organizações com valores compatíveis com os seus, entre os quais a preocupação com as pessoas e com o ambiente, e uma liderança próxima, inclusiva e democrática. Apostar em ESG é também apostar em talento.
Começar desde cedo
Podemos dizer que o objetivo de qualquer empresa é crescer a sua dimensão de negócios. As PME devem aproveitar hoje as preocupações ESG do mercado como uma oportunidade para repensar o seu crescimento de forma sustentável e em concordância com o perfil de novos clientes que surge com a mudança de valores nas novas gerações. Mais do que isso, as PME devem hoje aproveitar a sua escala para iniciar os esforços de reporte para que, eventualmente com o seu crescimento, este seja mais fácil.
As PME poderão assim crescer desde logo considerando também os desafios e oportunidades ambientais, sociais e de governança que no futuro lhes serão exigidos. Desta forma, criam-se negócios mais sustentáveis e resilientes.
O panorama regulatório está a mudar de forma progressiva, numa tentativa de responder às metas e objetivos definidos na luta contra as alterações climáticas. As empresas, enquanto agentes relevantes desta mudança, devem ver esta transição como uma oportunidade de repensar os seus modelos de negócios e operações, a fim de adotarem práticas mais sustentáveis para o planeta, promoverem ambientes de bem-estar e felicidade, construírem governanças mais firmes e resilientes, e contribuírem para economias circulares e mais fortes.
Em última análise, investir em ESG não é apenas uma obrigação legal ou um dever ético, mas também uma forma inteligente e estratégica de olhar para o futuro dos negócios. As PME que abraçam a sustentabilidade hoje estão não só a contribuir para um futuro melhor, como também a garantir a própria resiliência e a sua competitividade num mercado global em evolução.
Para saber mais sobre o tema, sugerimos a visualização do vídeo da sessão “Programa ESG PME Exportadoras: Curso ‘Fundamentos ESG’”, coordenada pela AICEP e pelo IAPMEI, aqui.