Na fase de arranque de desenvolvimento de um novo sítio web ou aplicação móvel, por diversos motivos – seja por questões de orçamento, cumprimento de prazos, espectativas internas ou até mesmo por desconhecimento do tema –, os conceitos de design universal acabam por ser postos de lado.
Muitas empresas e organizações do Estado ainda não estão totalmente conscientes dos benefícios de incorporar princípios de design universal nos seus produtos e serviços digitais. A adoção do design universal numa fase inicial de arranque de projeto, utilizando a estratégia e mindset adequados por parte das equipas de desenvolvimento, tem um vasto conjunto de benefícios:
- Assegura que a informação e as interações sejam mais percetíveis, compreensíveis, operáveis e robustas
- Chega a um maior número de pessoas, uma vez que cria soluções mais inclusivas para pessoas com deficiência
- Projeta uma melhor imagem da organização, uma vez que assegura inclusividade
- Evita riscos legais, ao não excluir ninguém
- Reduz o custo do projeto, nomeadamente custos de manutenção e de upgrade
- Permite melhor estruturação da programação e um código melhor desenvolvido
O design universal ajuda a criar melhores soluções
O design universal ou design para todos, criado pelo americano Ronald L. Mace, fundador do Center for Universal Design, consiste na criação de produtos, objetos, equipamentos e estruturas do mundo físico para que possam ser utilizados pela maioria das pessoas, independentemente da idade, do nível de escolaridade, da limitação física e ou cognitiva. Este conceito pode e deve ser também transposto para o digital, uma vez que o seu propósito é garantir que todas as pessoas, mesmo as que têm necessidades especiais, ainda que temporárias, possam ter igual acesso, e contribuir para uma sociedade mais inclusiva.
O design universal envolve sete princípios:
1. Utilização equitativa (inclusão)
O design é para todos, como tal, é necessário que seja funcional e adaptável para pessoas com diferentes capacidades. Ao utilizar determinada funcionalidade o resultado obtido deverá ser igual para todos.
Exemplo: Disponibilizar a navegação de menu no site também através de teclado para quem só consegue aceder dessa forma.
2. Flexibilidade de utilização
Cada pessoa interage de forma distinta com as aplicações digitais. Nesse sentido, um produto digital deverá ter a possibilidade de se adaptar às preferências e particularidades de utilização de cada indivíduo.
Exemplo: Permitir aumentar o tamanho do texto da página por forma a garantir uma maior legibilidade; ou ativação do modo de alto contraste.
3. Utilização simples e intuitiva
O design deve ser facilmente compreendido por todos. Poderá utilizar analogias visuais através de objetos do mundo físico e associá-los a tarefas semelhantes no mundo digital.
Exemplo: Para eliminar uma ação, utilizar o ícone de lixo acompanhado da sua descrição com legenda e audiodescrição, para que fique claro para todos qual a sua função.
4. Informação percetível
Informar de forma clara no sentido de ser compreensível para o maior número de pessoas e, quando necessário, explicar os termos complexos ou mais técnicos que tenham de ser usados.
Exemplo: Disponibilização de um glossário para termos complexos, audiodescrições, ou outros recursos que facilitam o entendimento ou a passagem da informação para todos.
5. Tolerância ao erro
Minimizar as hipóteses de erro para o utilizador em caso de ações acidentais ou involuntárias.
Exemplo: Através de caixas de alertas, confirmar se pretende mesmo realizar determinada ação, e disponibilizar mecanismos de retrocesso, como voltar a editar, e visualizar o estado do processo.
6. Esforço físico mínimo
O design deve permitir que a interação tenha o mínimo de esforço físico e cognitivo por parte dos utilizadores.
Exemplo: Garantir que os botões de ação estão devidamente identificados e com uma dimensão mínima, para serem facilmente reconhecidos e ativados.
7. Dimensão e espaço para aproximação e utilização
Permitir o tamanho e espaço suficientes para garantir a fácil manipulação e a mobilidade do utilizador. Apesar de este princípio estar vocacionado para espaços físicos, também é aplicável no mundo digital, ao garantir que todos os elementos da página web são facilmente acedidos e que não existem barreiras na sua utilização.
Exemplo: Permitir que as tecnologias de apoio à acessibilidade circulem de forma correta e sem barreiras na reprodução nos elementos da página.
Como podem as empresas e organizações adotar práticas de design universal e acessibilidade?
1. Tenha uma mentalidade inclusiva na sua equipa e organização
O primeiro passo vem de uma mudança de mentalidade das equipas de desenvolvimento, para que estas sejam mais inclusivas nas suas ideias e processos de desenvolvimento.
Ao promover e consciencializar as práticas de design universal pela sua equipa e na sua organização está também a impulsionar mais inovação e criatividade através de identificação de novos insights dentro de cada um destes princípios.
Para tal é necessário envolver researchers, designers, peritos UX, developers e outros membros da equipa em todas as fases de desenvolvimento, para que entendam o valor das decisões a tomar e das tarefas a garantir no sentido de criarem soluções mais eficazes e garantir as boas práticas após lançamento dessas mesmas soluções.
2. Garanta a acessibilidade e inclusão digital na fase inicial dos projetos
O cumprimento das regras de usabilidade e de acessibilidade em sites já existentes configuram um desafio maior por comparação com a construção de novos sites. Por esse motivo é necessário garantir que os pontos de design universal são assegurados desde os protótipos iniciais. Estes princípios orientadores também irão ajudar no processo de decisão e a tomar melhores e mais rápidas decisões de design.
3. Envolva as pessoas no processo de construção
Não guarde para o final do projeto a realização de testes de usabilidade e acessibilidade com pessoas com e sem deficiência. Os testes deverão ser realizados ao longo do processo de construção, através de protótipos e ou funcionalidades que já possuam algum nível de interação. Ao realizar estes testes permite identificar erros não detetados pelas equipas de desenvolvimento ou de pontos a melhorar no processo de interação ainda numa fase inicial – sem que estas questões se traduzam num desvio de calendário ou no aumento de custos no desenvolvimento no projeto.
Nuno Duarte, Lead UX&UI Designer na LBC
A LBC tem uma vasta experiência no desenvolvimento de portais centrados no utilizador e de acordo com os princípios do design universal. Este conhecimento permite-nos desenvolver um conjunto de metodologias e processos de trabalho que possibilitam uma análise rápida da maturidade de websites, definir as melhores alternativas de ação e implementar uma estratégia de evolução para se atingir os níveis ambicionados de usabilidade e acessibilidade.
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